Bem Vindos!



Bem Aventurados os que entram no Bosque da Lua Carmim!

Se você chegou até aqui, bem vindo!

Se foi convidado, sinta-se à vontade para sentar à volta da fogueira e ouvir As Sete Cantadoras, suas histórias, delírios e mágoas, a assistir às declamações apaixonadas de Eros e o ardor de suas palavras!

Agora, se chegou com as próprias pernas ... bem ... não se engane, por trás da dança, da bebida e da fogueira também está o covil da loba: local onde ela guarda os ossos que desenterra no escuro e lambe as feridas da carne e alma.

De qualquer forma, você está aqui, se seguiu o brilho alaranjado da lua, ou se simplesmente está perdido no escuro, olhe onde pisa e divirta-se, as histórias estão ditas para aqueles que querem ouvir.

Novamente, bem vindos.

segunda-feira, 26 de março de 2018

O Mar de espinhos.


Mesmo depois da seca, da queimada e da dor, da sede do desamparo da falta de cuidado,
Depois do crescimento descontrolado, das vinhas secas, dos brotos que não vingaram,
Do medo, do enclausuro, da raiva e do ódio que nos fazem crescer espinhos,
Aos olhos menos preparados, somos o perigo, somos evitadas, somos deixadas de lado e abandonadas.
E mesmo após todo esse tempo, a primeira gota da chuva ou da lágrima, nos faz crescer novamente,
Fortes, belas, ferozes em direção às alturas!
Ainda sim com vinhas e espinhos,
Mas aos olhos bem preparados, é possivel ver o primeiro sinal da verdadeira beleza.
Do lento e gentil desabrochar.
O tímido botão se mostra pequeno e negro, saindo do meio das vinhas secas em direção ao sol.
E para aqueles que tem paciência a recompensa é grande, as vezes é necessário um pouco de ajuda: retirar os galhos secos e as folhas mortas para que se possa ver com mais clareza o que o mundo espera.
O botão floresce, o que era negro agora é carmim como o sangue, intenso e inebriante.
Ainda há aqueles que têm medo,
Ainda existem aqueles que preferem a segurança das mãos intáctas e inertes.
Porém, para os destemidos, é preferível arranhar-se e levar uma ou duas cicatrizes do que perder o suave toque da rosa.
Para que possamos sentir alguns prazeres é necessário machucar-se primeiro, perder o medo e a apatia.
Só não sabe o que é dor quem nunca se aventurou.
Mas quem nunca se aventurou, nunca viveu.
Salve a rosa,
Salve os espinhos,


quinta-feira, 22 de março de 2018

Chuva na madrugada



Será que a chuva que vejo é a mesma que a sua?

Será que ouvimos o mesmo som e sentimos o mesmo cheiro?

Será que essa vontade de correr pela madrugada você também sente?

Será que você também sente os ossos e os músculos ardendo por movimento, ação e vida?

Será que quando a noite não tem lua você também tem vontade de acender uma fogueira e dançar envolta até que os deuses sintam os chamando? E quando o céu está estrelado, não tens vontade de deitar no telhado e fumar um cigarro enquanto vê a imensidão do piche azulado salpicado de luzes? Deleitar-se e inebriar os sentidos procurando por algo além?
Se a lua está cheia não tem vontade de uivar a plenos pulmões para ouvir a histeria da própria voz? Sentir a loucura tomar lentamente os sentidos? Rir motivo e chorar na sequência?
Sair andando sem rumo: a cidade vazia.
O comércio fechado. Os tipos que caminham na noite, sentir a ansiedade do medo, a adrenalina do perigo! Ser caça e caçador. Olhar em seus olhos e ver que somos iguais, Besta e donzela.
Mas não, a resposta provavelmente é não.
Nada disso, não corra à noite, é perigoso, não tome chuva ou vento, a essa hora da noite ninguém presta, ninguém pode ser confiável.
Você é diferente disso, ignore o mendigo, não toque no cachorro, não ponha a mão nisso, não assuma esse risco. Você vai ficar doente, o cigarro acaba com sua voz, mulher bêbada é feio.
Não tome chuva, seus pelos ficaram indomáveis e o seu cheiro será evidente, cuidado com a lua cheia, os olhos ficarão iluminados, o dentes, eles já estão à mostra, cuidado, se não todos saberão que aqui há uma Besta e não uma donzela.