Bem Vindos!



Bem Aventurados os que entram no Bosque da Lua Carmim!

Se você chegou até aqui, bem vindo!

Se foi convidado, sinta-se à vontade para sentar à volta da fogueira e ouvir As Sete Cantadoras, suas histórias, delírios e mágoas, a assistir às declamações apaixonadas de Eros e o ardor de suas palavras!

Agora, se chegou com as próprias pernas ... bem ... não se engane, por trás da dança, da bebida e da fogueira também está o covil da loba: local onde ela guarda os ossos que desenterra no escuro e lambe as feridas da carne e alma.

De qualquer forma, você está aqui, se seguiu o brilho alaranjado da lua, ou se simplesmente está perdido no escuro, olhe onde pisa e divirta-se, as histórias estão ditas para aqueles que querem ouvir.

Novamente, bem vindos.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Delírios Diurnos e seus Vapores Intoxicantes

Inebriar-se de Amor


Por Call me Eros.


Resultado de imagem para Ace cups afroddite

Levantou a cabeça com rapidez e olhou ao redor. O sol brilhava com força, com certa ardência na pele e a areia branca não grudava em seu corpo, a água do mar semitransparente lhe teria passado sentimentos de paz se a situação fosse outra. Seria um sonho? Levantou-se para tentar enxergar mais longe – era uma praia, atrás de si em certa distância árvores projetavam sombra fresca.

Algo começou a se levantar a partir da água. Lentamente foi se erguendo uma mulher com cabelos ruivos e pele que brilhava palidamente sob a luz do sol. Quando se aproximou pôde perceber que parte do brilho parecia vir de micro diamantes que constituíam sua tez. Na mão esquerda uma maçã que fora ofertada por Páris para a mais bela dentre 3 deusas de poder incomensurável. Na mão direita um cálice.

Colocou seus olhos verde-mar sob o rapaz ali parado atônito. Estendeu o cálice para que ele pegasse, enquanto matinha a maçã próxima à sua boca, embora impossível saber o que ela planejava, podia-se perceber levemente um ar de diversão ao seu redor.

- Pegue – Sua voz soava como se saísse das profundezas da mente do rapaz, nem ao menos parecia emitir algum som real. Estendeu as duas mãos e pegou o cálice. Não teve coragem de olhar dentro.

- Isso é medo? – Parecia intrigada e ao mesmo tempo ameaçada, como se olhasse para dentro dele e analisasse. Mais importante que a resposta, era o fato dele se dar conta do que estava acontecendo.

- É... um pouco. – disse cabisbaixo, mas ainda evitando o cálice.

- Doce criança. – Se aproximou e passou a mão em seu rosto. – A negação também é parte do caminho.

- Não quero que aconteça.

- Não?

Levantou a cabeça dele para que olhasse em seus olhos. Sentiu o verde-mar tomar conta de si, como se mergulhasse dentro dos olhos dela, não podia escapar. Viu universos rodopiando ao seu redor, pôde sentir desejos intensos e amores profundos. Sentiu a entrega, sentiu o egoísmo, toda sorte de sentimentos que juntos formavam hora tempestade, hora brisa tranquila.

Como se a neblina se dissipasse, viu a si mesmo abraçado com outro rapaz. Tudo rodopiou e se viu lhe tocando o torso nu. Mais uma vez e se viu nu e entregue aos braços do outro. E então as cenas se afastaram dele e percebeu que pareciam quadros que se movimentavam, cada um com um momento, uma passagem de uma mesma história. Contou dez ao todo. Voltou-se para o primeiro, e lá estava a mulher de pele branca e brilhante com olhos verde-mar. E se encontrou no mesmo lugar que estava antes.

- Não?

Olhou para o cálice que rodopiava um líquido semitransparente e dourado. Sentiu-se caindo no cálice.

O calor lhe preencheu por completo, por fora e por dentro e se viu em queda. Por um instante pensou em tentar se agarrar a algo ao redor e impedir que continuasse indo para o fundo, mas desistiu. O calor que lhe envolvia era intenso e confortante e não tinha motivo para tentar impedir a sensação inebriante

- Não?

- Vou me machucar quando chegar lá embaixo...

Sentiu braços se materializando ao seu redor, sentiu-se seguro e parou de cair. Abriu os olhos e viu os olhos do outro fixados nele. Estava tudo bem. Tudo ficaria bem. Sentiu seus lábios se encontrando.

- Não?

- Sim. – Tomou consciência de si novamente.

- Peça doce criança.

- Imploro... suas bênçãos Astarte dos fenícios, Ishtar dos acádios, Inanna dos sumérios, Ísis dos egípcios, Vênus dos romanos. Lhe rogo todas as bênçãos dos que se perdem por amor e dos que se encontram no que é belo. Ouça meu coração e me permita viver esse amor por completo e que assim me complete. Ó grande mãe de Eros, Himeros, Pothos e Antheros, ouça minha súplica ó Afrodite dos gregos.

Percebeu que estava ajoelhado, ainda que não soubesse como havia chegado ao chão.

No lugar onde estava a deusa restava apenas um cálice.

terça-feira, 1 de maio de 2018

A jornada dos Reis, suas passagens e ensinamentos - Anexo I

Contos da Jornada da Conquista, O Nascimento do Rei de Espadas – Capítulo 0


Resultado de imagem para tarot the fool

O primeiro passo é sempre o mais difícil.


Triste, O rei de espadas saía dos limites das terras tão bem conhecidas por ele, olhou longamente para trás apesar de este não ser um costume. Observava cada riacho que cortavam os campos, o castelo ao longe que defendera de tantos inimigos, as tabernas as quais tanto bebera e as casas de muitos conhecidos e companheiros de batalha, em especial, se demorou na do seu velho mentor, um homenzinho nervoso e de bom coração. Riu ao lembrar-se da expressão que ele fez ao descobrir que seu discípulo havia sido honrado com o título de cavaleiro e assim, capitão do mesmo. Lembrou-se de todos os trabalhos escabrosos que recebia no começo de seu treinamento, da quantidade de cavalos e bois que teve que escovar, alimentar, limpar ferimentos, trocar ferraduras embaixo de sol e chuva, sempre sendo acompanhado de perto pelo velhote, que reclamava sem parar da forma que efetuava o trabalho, corrigindo-o e zombando, no final do dia ainda havia de ouvir “Foi tudo um teste” ou “um dia você vai me agradecer”.



- Tsc, velho sem vergonha - riu sozinho novamente.



Decidiu desvencilhar o olhar logo de uma vez “É uma viagem longa, não tenho tempo para pensar no passado”. Conforme virava o cavalo topou com sua última lembrança, as tendas de guerra, local onde ficavam os dois estrategistas mais doidos que conhecera, seu antigo General e mestre combate, “fio de prata”, e a negociante chefe de termos de invasão, “A Guilhotina” ou “A Rainha da lâmina”, os dois brigavam tanto, que por muitas vezes seus conflitos representavam mais ameaças ao reino do que os invasores em si, no final, os problemas e as brigas haviam de ser apaziguados pelos aprendizes da negociante chefe. “Outros dois pirados” – pensou - se moldavam à loucura dos outros para não se perder em sua própria, por sorte, tinham inteligência o suficiente para não sucumbir à insanidade como ocorreu com todos os outros aprendizes.



Queria desvencilhar o olhar, mas não conseguia, uma dor lacerante na garganta o fazia ficar estagnado ali, queria berrar, soltar todo ódio preso em sua garganta, livrar-se da tristeza e a mágoa de ter que partir de um lugar que amava, de abandonar os companheiros que adorava, de ter que ir embora por achar que nunca teria uma chance de conquistar tanto quanto ele terá em novas terras. Aos poucos as imagens que via ficaram turvas, havia chorado, limpou rapidamente antes que alguém, inclusive ele mesmo, pudesse perceber. Cutucou com pressa os estribos de seu cavalo e virou-se.



Partiu.



Quem sabe um dia retornaria, quem poderia negar este destino? Quem sabe um dia não será o responsável por unificar os reinos e tornar-se o um Imperador?



Até lá, boa sorte Rei de Espadas, os ventos sopram forte no litoral, aproveite os impulsos e conquiste um novo mundo.



Abraços da sua velha amiga Bruxa.




- Anexo I - Cartas à Corte - Carta de Despedida ao Rei de Espadas.