Inebriar-se de Amor
Por Call me Eros.
Levantou a cabeça com rapidez e olhou ao redor. O sol
brilhava com força, com certa ardência na pele e a areia branca não grudava em
seu corpo, a água do mar semitransparente lhe teria passado sentimentos de paz
se a situação fosse outra. Seria um sonho? Levantou-se para tentar enxergar
mais longe – era uma praia, atrás de si em certa distância árvores projetavam
sombra fresca.
Algo começou a se levantar a partir da água. Lentamente foi
se erguendo uma mulher com cabelos ruivos e pele que brilhava palidamente sob a
luz do sol. Quando se aproximou pôde perceber que parte do brilho parecia vir
de micro diamantes que constituíam sua tez. Na mão esquerda uma maçã que fora
ofertada por Páris para a mais bela dentre 3 deusas de poder incomensurável. Na
mão direita um cálice.
Colocou seus olhos verde-mar sob o rapaz ali parado atônito.
Estendeu o cálice para que ele pegasse, enquanto matinha a maçã próxima à sua
boca, embora impossível saber o que ela planejava, podia-se perceber levemente
um ar de diversão ao seu redor.
- Pegue – Sua voz soava como se saísse das profundezas da
mente do rapaz, nem ao menos parecia emitir algum som real. Estendeu as duas
mãos e pegou o cálice. Não teve coragem de olhar dentro.
- Isso é medo? – Parecia intrigada e ao mesmo tempo ameaçada,
como se olhasse para dentro dele e analisasse. Mais importante que a resposta,
era o fato dele se dar conta do que estava acontecendo.
- É... um pouco. – disse cabisbaixo, mas ainda evitando o
cálice.
- Doce criança. – Se aproximou e passou a mão em seu rosto.
– A negação também é parte do caminho.
- Não quero que aconteça.
- Não?
Levantou a cabeça dele para que olhasse em seus olhos.
Sentiu o verde-mar tomar conta de si, como se mergulhasse dentro dos olhos
dela, não podia escapar. Viu universos rodopiando ao seu redor, pôde sentir
desejos intensos e amores profundos. Sentiu a entrega, sentiu o egoísmo, toda
sorte de sentimentos que juntos formavam hora tempestade, hora brisa tranquila.
Como se a neblina se dissipasse, viu a si mesmo abraçado com
outro rapaz. Tudo rodopiou e se viu lhe tocando o torso nu. Mais uma vez e se
viu nu e entregue aos braços do outro. E então as cenas se afastaram dele e
percebeu que pareciam quadros que se movimentavam, cada um com um momento, uma
passagem de uma mesma história. Contou dez ao todo. Voltou-se para o primeiro,
e lá estava a mulher de pele branca e brilhante com olhos verde-mar. E se
encontrou no mesmo lugar que estava antes.
- Não?
Olhou para o cálice que rodopiava um líquido
semitransparente e dourado. Sentiu-se caindo no cálice.
O calor lhe preencheu por completo, por fora e por dentro e
se viu em queda. Por um instante pensou em tentar se agarrar a algo ao redor e
impedir que continuasse indo para o fundo, mas desistiu. O calor que lhe
envolvia era intenso e confortante e não tinha motivo para tentar impedir a
sensação inebriante
- Não?
- Vou me machucar quando chegar lá embaixo...
Sentiu braços se materializando ao seu redor, sentiu-se
seguro e parou de cair. Abriu os olhos e viu os olhos do outro fixados nele.
Estava tudo bem. Tudo ficaria bem. Sentiu seus lábios se encontrando.
- Não?
- Sim. – Tomou consciência de si novamente.
- Peça doce criança.
- Imploro... suas bênçãos Astarte dos fenícios, Ishtar dos
acádios, Inanna dos sumérios, Ísis dos egípcios, Vênus dos romanos. Lhe rogo
todas as bênçãos dos que se perdem por amor e dos que se encontram no que é
belo. Ouça meu coração e me permita viver esse amor por completo e que assim me
complete. Ó grande mãe de Eros, Himeros, Pothos e Antheros, ouça minha súplica
ó Afrodite dos gregos.
Percebeu que estava ajoelhado, ainda que não soubesse como
havia chegado ao chão.
No lugar onde estava a deusa restava apenas um cálice.
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