Contos da Jornada da Conquista, O Nascimento do Rei de Espadas – Capítulo 0
O primeiro passo é sempre o mais difícil.
Triste, O rei de espadas saía dos limites das terras tão bem conhecidas por ele, olhou longamente para trás apesar de este não ser um costume. Observava cada riacho que cortavam os campos, o castelo ao longe que defendera de tantos inimigos, as tabernas as quais tanto bebera e as casas de muitos conhecidos e companheiros de batalha, em especial, se demorou na do seu velho mentor, um homenzinho nervoso e de bom coração. Riu ao lembrar-se da expressão que ele fez ao descobrir que seu discípulo havia sido honrado com o título de cavaleiro e assim, capitão do mesmo. Lembrou-se de todos os trabalhos escabrosos que recebia no começo de seu treinamento, da quantidade de cavalos e bois que teve que escovar, alimentar, limpar ferimentos, trocar ferraduras embaixo de sol e chuva, sempre sendo acompanhado de perto pelo velhote, que reclamava sem parar da forma que efetuava o trabalho, corrigindo-o e zombando, no final do dia ainda havia de ouvir “Foi tudo um teste” ou “um dia você vai me agradecer”.
- Tsc, velho sem vergonha - riu sozinho novamente.
Decidiu desvencilhar o olhar logo de uma vez “É uma viagem longa, não tenho tempo para pensar no passado”. Conforme virava o cavalo topou com sua última lembrança, as tendas de guerra, local onde ficavam os dois estrategistas mais doidos que conhecera, seu antigo General e mestre combate, “fio de prata”, e a negociante chefe de termos de invasão, “A Guilhotina” ou “A Rainha da lâmina”, os dois brigavam tanto, que por muitas vezes seus conflitos representavam mais ameaças ao reino do que os invasores em si, no final, os problemas e as brigas haviam de ser apaziguados pelos aprendizes da negociante chefe. “Outros dois pirados” – pensou - se moldavam à loucura dos outros para não se perder em sua própria, por sorte, tinham inteligência o suficiente para não sucumbir à insanidade como ocorreu com todos os outros aprendizes.
Queria desvencilhar o olhar, mas não conseguia, uma dor lacerante na garganta o fazia ficar estagnado ali, queria berrar, soltar todo ódio preso em sua garganta, livrar-se da tristeza e a mágoa de ter que partir de um lugar que amava, de abandonar os companheiros que adorava, de ter que ir embora por achar que nunca teria uma chance de conquistar tanto quanto ele terá em novas terras. Aos poucos as imagens que via ficaram turvas, havia chorado, limpou rapidamente antes que alguém, inclusive ele mesmo, pudesse perceber. Cutucou com pressa os estribos de seu cavalo e virou-se.
Partiu.
Quem sabe um dia retornaria, quem poderia negar este destino? Quem sabe um dia não será o responsável por unificar os reinos e tornar-se o um Imperador?
Até lá, boa sorte Rei de Espadas, os ventos sopram forte no litoral, aproveite os impulsos e conquiste um novo mundo.
Abraços da sua velha amiga Bruxa.
- Anexo I - Cartas à Corte - Carta de Despedida ao Rei de Espadas.
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