Bem Vindos!



Bem Aventurados os que entram no Bosque da Lua Carmim!

Se você chegou até aqui, bem vindo!

Se foi convidado, sinta-se à vontade para sentar à volta da fogueira e ouvir As Sete Cantadoras, suas histórias, delírios e mágoas, a assistir às declamações apaixonadas de Eros e o ardor de suas palavras!

Agora, se chegou com as próprias pernas ... bem ... não se engane, por trás da dança, da bebida e da fogueira também está o covil da loba: local onde ela guarda os ossos que desenterra no escuro e lambe as feridas da carne e alma.

De qualquer forma, você está aqui, se seguiu o brilho alaranjado da lua, ou se simplesmente está perdido no escuro, olhe onde pisa e divirta-se, as histórias estão ditas para aqueles que querem ouvir.

Novamente, bem vindos.

domingo, 8 de julho de 2018

Sonhos Passados - Asas Negras - A primeira aparição



Os sonhos são portais para nos encontrar com pessoas que conhecemos ou que iremos conhecer, e hoje eu lhes conto sobre o sonho que conheci você:
(Por mim) 

A Caçada


Eu estava preocupada, já fazia muito tempo que estávamos em seu encalço e não conseguíamos capturá-la, era uma traidora, ou desertora, a busca era tão antiga e tão longa que já não nos lembrávamos os motivos dela. Mas isso era indiferente, no final ela não tinha para onde correr, a fuga só prolongaria a sua dor. A cidade em que havia se escondido era um labirinto de prédios e barracos, uma mistura de favela indiana com construções marroquinas.

Eu e meus companheiros estávamos cansados, mas dessa vez eu sabia que estávamos na direção certa. Eu me ajoelho para tocar a poeira do chão, passo os dedos pelo pó e sinto sua presença, vejo os folículos brancos de suas penas - está tudo certo - o lugar é este, desta vez vamos pegá-la. Ainda de joelhos eu reparo no local, o terraço do casebre que me encontro é o mais baixo das construções locais, olhando para baixo vejo pessoas andando de um lado para o outro como formigas ocupadas, por toda a volta são visíveis construções subindo em direção aos céus desordenadamente: edifícios sem qualquer acabamento, tijolos e concretos expostos como carne viva. Alguns deles interconectados por passadiços improvisados de vergalhões e madeira, outros possuem lonas amarradas como se estivessem protegendo a visão de quem olha de cima. A visão do céu também tinha que brigar com o emaranhado de cordas e arames que estendiam os variais de roupas e itens à venda, o pouco azul que sobrava era dedicado aos pombos voando de um lado para o outro.

Sinto a presença de meus companheiros atrás de mim, suas sombras se projetam à minha frente, eu saco minha espada e olho para cima, está na hora. Ela já sabe que estamos aqui, preciso agir rápido. Respiro fundo e me preparo para a batalha, abaixo minha cabeça e permito que minha coluna fique exposta, a sensação que deveria ser lacerante não passar de sons e estalar de ossos, romper da carne e expulsão de membros, no fim, não há dor, somente alívio. Estou pronta, mais que isso, estou acostumada. As asas negras despontam de minhas costas em direção ao céu azul, brigando por espaço junto dos outros elementos da cidade, elas são grandes demais para aquele local, mas serão o suficiente para alcançá-la.

Eu olho para cima e vejo um vulto passando rapidamente por entre os prédios, asas brancas saltando em desespero - é o nosso alvo. Com um comando ordeno que os outros vão atrás dela, sem muito esforço eu salto em direção à uma armação de ferro tentando alcançar o próximo nível, e de novo, e de novo, vou em direção às asas brancas. Em certo momento, elas me notam, e começam a fugir, a perseguição acontece em meio ao emaranhado da cidade, a adrenalina latente e a sede da caçada consome meu corpo, posso sentir os músculos se enrijecerem com cada golpe lançado ao ar, o peso da espada que fatiava os céus em busca do alvo, o tremor da raiva de cada erro, a flexão das pernas com cada salto. A caçada era longa, meus outros companheiros fechavam o cerco como lobos de uma matilha, atiçando e guiando a presa para o local de abate, até que conseguimos expulsá-la para fora do emaranhado da cidade, para o céu aberto. Ela foi primeiro, voou em direção ao sol projetando sua silhueta contra a luz, impedindo que fosse reconhecida, sendo apenas perceptível o par de asas brancas contra o céu iluminado, os outros já estão em sua posições, impedindo a fuga do golpe final, e eu, como um lobo faminto, salto em sua direção, a mão direita brandindo a espada e a esquerda buscando agarrar a presa, os dedos se aproximam lentamente das plumas brancas, os batimentos são sentidos na garganta, os olhos fixos no alvo, o braço tenso pronto para golpear.


Eu acordo,

Braço esticado, punho cerrado, pernas cansadas, e coluna dolorida.

O que foi isso? Que sonho bizarro. Quem era você?
....

Doze anos depois eu ainda me lembro deste sonho como se fosse ontem, e da sua cara de surpresa ao saber quem eram as asas negras que te perseguiam pela cidade favela, da reação dele ao saber que nunca havíamos nos falado quando compartilhamos este sonho, e de nossa curiosidade do: Mas por quê?
Na minha cabeça ainda exitem dúvidas: Qual o significado disso, e quem são as presenças ao meu comando que eu conhecia tão bem? Será que eu vou um dia encontrá-los, será que eu já os conheço?

E o mais importante: Que merda você aprontou comigo?????


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