Bem Vindos!



Bem Aventurados os que entram no Bosque da Lua Carmim!

Se você chegou até aqui, bem vindo!

Se foi convidado, sinta-se à vontade para sentar à volta da fogueira e ouvir As Sete Cantadoras, suas histórias, delírios e mágoas, a assistir às declamações apaixonadas de Eros e o ardor de suas palavras!

Agora, se chegou com as próprias pernas ... bem ... não se engane, por trás da dança, da bebida e da fogueira também está o covil da loba: local onde ela guarda os ossos que desenterra no escuro e lambe as feridas da carne e alma.

De qualquer forma, você está aqui, se seguiu o brilho alaranjado da lua, ou se simplesmente está perdido no escuro, olhe onde pisa e divirta-se, as histórias estão ditas para aqueles que querem ouvir.

Novamente, bem vindos.

domingo, 19 de agosto de 2018

Liberdade - O Retorno das Asas Negras


Ciclos completos


Por Mim, afinal, por quem mais seria?

Enfim, estava pronta, podia finalmente fazer este passeio, meu melhor amigo viria junto, não era nada de mais não seria muito longo também, mas a consequência seria o mais importante. 

O evento se aproximava, a roupa e a maquiagem já estavam escolhidas, os convidados e observadores se preparavam, um gigantesco par de asas brancas com um brilho amarelado como o brilho da primeira luz da manhã foi minha escolha para a minha aparição, seria como a estrela mor do dia. Eu estava feliz, tocava delicadamente as penas brilhantes, o tom de pureza e naturalidade traziam conforto aos olhos.


Foi quando descobri que não poderia ficar com aquelas asas, a familia dele não deixaria, mesmo não tendo mais nada comigo, eles não queriam que aquelas asas ficassem comigo, era belo demais, ou talvez, eles pensassem que aquilo seria mais digno deles do que de mim. Eu descobri que seriam eles que me fariam perdê-la em meio ao espetáculo. Que espetáculo? 

Eu fiquei surpresa por alguns instantes, caminhei pela exposição à céu aberto, quadros pendurados em uma ladeira. Em meio a minha caminhada eu entendi: "Eu não preciso me preocupar, eu posso perder essas asas na festa, mas eu posso usar o segundo par que veio junto, que é um par de asas negras belíssimas! Eu não vou me importar com o que os outros vão pensar". 

Em meio ao meu raciocínio ele veio de meu encontro, me pedindo milhares de desculpas por aquilo estar acontecendo, pois a família dele iria me destratar com a troca, e que ele estava preocupada com o que as pessoas iam falar ou como iam reagir, ele em especial falava alguma coisa como: eu sei que é escolha sua, e não é sua culpa que isso vai acontecer, eu não quero que você seja mal tratada. Por que eu seria mal tratada? Aquilo era quem eu era. 


É engraçado, pois foi nas entrelinhas de suas frases que eu percebi que o evento era uma festa e ritual, em que eu seria a atração principal: Queimada para entretenimento de todos, o grande espetáculo da transformação, da mutação, da saída do casulo. 


Mas mesmo com o pedido de desculpas dele, e do medo que ele sentia, e as recomendações e pedido de não usar as asas negras, eu não senti medo ou raiva alguma, eu entendia que ia ser ótimo ter a oportunidade de usar aquelas asas e até trocar de aparência um pouco. 

Eu aproveitei o pouco momento que me sobrava com as asas antigas e voei, levemente, eu vi no mesmo pacote das asas brancas as asas pretas guardadas não utilizadas e as admirei e fiquei ansiosa por elas. 



No final, a mudança gerou tantas críticas, ódio e medo nos outros quanto era prometido, mas eu não me importei, eu era outra completamente diferente, e tinha as asas negras ao meu lado, e a sensação daquilo, era como se eu tivesse voltado à ser quem eu era. As asas brancas eram belíssimas, mas eram as asas negras quem me pertenciam. Eu estava pronta para mostrar à todos quem eu era, aos poucos saí de cena e voava em direção ao evento. 

Queimei

Ardi

Virei cinzas

E se pensar bem, as asas que eu achava deveriam ser brancas, iriam se tornar negras de qualquer jeito.


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