Oração nº 1 - A trilha do Rei de Espadas
"Toda reza tem no fim um amém."
A Flor e o Navio, Capela.
A língua é afiada como uma adaga, se não notar, ela o
cortará.
O pensamento é rápido como o vento, não se prepare ele o
carregará.
Não aparenta emoções, os olhos vidrados enxergam apenas o
seu objetivo.
Move-se apenas em frente, atravessando tudo em seu caminho,
Não atropela ou empurra, passa por entre os obstáculos,
Os fracos e os sem estrutura vão ao chão, não resistindo à
força avassaladora tal qual tempestade.
Brande orgulhosamente sua espada, a empunhadura é entalhada
com o seu conhecimento e a lâmina forjada pela experiência.
Alguns diriam que se trata de um homem capaz de tudo para
possuir o que quer.
Outros dirão que é frio e calculista, um homem maduro, de
lábia.
Ele mesmo considera-se uma pessoa maldosa,
Mas talvez seja porque acredita demais que exista o certo e
o errado, e que nem sempre o que precisa ser dito ou feito julga correto.
Há aqueles que assim como eu observa em admiração,
Contempla sem julgamentos a trilha que o guia, a motivação
que o carrega e as conquistas que consegue.
O Príncipe de Gládios é coroado Rei, agora precisa de
castelo e terras.
Sem olhar para trás, acena aos companheiros de tantas
batalhas, como que em agradecimento.
Monta em seu cavalo, saca sua espada e cavalga rumo ao
desconhecido,
Com a única certeza de que será bem sucedido.
- Contos da Jornada da Conquista, A dança das Lâminas -
Introdução.
***
(16) A última visita
Caminhava com passos firmes em direção à tenda, apesar da
convicção, era possível perceber uma certa incerteza em seu semblante, algo não
estava certo. Ele não era das pessoas mais abertas que conheci, na verdade, por
medo de que as emoções entrassem no caminho de seus objetivos as mantinha
guardadas em algum lugar de sua mente e não de seu coração, reservava elas para
aqueles que julgava merecedores. Ao por-se para dentro arrumou um velho
encantamento dependurado ao lado da entrada.
“Você sabia que é de mal gosto manter amuletos de repulsão
ao lado da entrada ao receber visitas?”
“Eu vou jogar essa velharia fora”
“Finalmente” replicou rindo.
“Ele nunca funciona, você continua entrando”
Riram juntos.
“Eu vou partir velha amiga, vim à sua tenda pedir um último
conselho às cartas” – lançou um meio sorriso e continuou como quem estivesse à
se explicar – “Não há mais nada nessas terras para conquistar, toda justiça que
eu poderia fazer já foi feita e aquelas que não posso corrigir me corrõem,
sinto-me como um carvalho em um pequeno vaso.”
“Entendo”
Saquei as cartas enquanto ouvia suas dúvidas e expectativas,
ao final disse que havia sido nomeado rei, porém para isso seria necessário
conquistar um novo território, terras vizinhas porém desconhecidas.
“Parabéns pela nomeação, vejo que seu futuro será brilhante,
entretanto a conquista será árdua, os
obstáculos que você não transpassou aqui serão os mesmo lá, as amarguras serão
as mesmas, é como dizem, muda o teatro, mudam os personagens, porém o enredo
será o mesmo. A vida tem um jeito irônico de nos obrigar a aprender as liçoes
às quais fugimos”
“Não me contou novidade alguma bruxa”
“Claro que não, se bem te conheço não é possível haver algo
em que você não tenha pensado. Mas lembre-se: a lealdade de amigos ainda não
foi conquistada, cuidado pois há aqueles que não veem com bons olhos um novo
rei de gládios”
“Obrigado pelo conselho” - levantou-se rapidamente ajeitando
a espada, sem jeito não sabia exatamente como se despedir.
Foi em minha direção como se fosse beijar meu rosto.
Resistiu. Assenti. Não havia necessidade, não para ele.
Não para o Rei de Espadas.
- Contos da Jornada da Conquista, A dança das Lâminas -
Epílogo.
Originalmente postado em: Cap3la.blogspot.com.br
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