A saga do Cavaleiro de Copas
Ele era como Poseidon em suas águas profundas, mesmo ferido
nunca abaixava a cabeça. Quando a água do mar escorria por entre as chagas e o
ardor se espalhava pelo corpo, não deixava que a angústia transparecesse à
todos, sozinho em seu oceano amargurava o verter do sangue de seu corpo, com o
tempo, o sangue lhe fugia demais e faltou-lhe a vida, por sorte era forte, e o
sol que brilhava acima das águas o chamou com seu brilho fulguroso, estava
vivo!
Lentamente a própria corrente do mar o levou à superfície, o
corpo frio foi aquecido pelo sol que ardia como um tapa. Foi recuperar-se longe
do mar na campina, onde não poderia descer tão fundo novamente.
Mas isso também não era bom.
A Campina era bem aventurada e pacata, mas aos poucos
percebeu-se que aquele lugar era apenas uma miragem para sua mente. Ele sentia
que ali não era seu lugar: sentia falta do mar frio e revoltoso, das águas
profundas e geladas, apesar ficar sempre sozinho, tão sozinho...
Mas um dia, sentado na Campina, ele viu um cavalo correr
livre, as crinas ao vento, o galopar imponente, guiava seu olhos por entre um
caminho, encantado por sua beleza o seguiu: corria atrás dele com tudo o que
tinha, cada batida de seu coração, cada suspiro de seu peito, mas o cavalo
corria, corria e corria. Até que então, sem dúvidas ou receios, o cavalo saltou
pelo desfiladeiro: flutuou no ar como se não houvesse peso, os cascos castanhos
dançavam e moviam-se em um balé em pleno céu, a cena que durou segundos para o
cavalo desenhou na mente Dele lentamente cada detalhe tamanho a surpresa. O
cavalo que já havia pousado do outro lado seguiu viajem rumo ao infinito
esvaecendo-se da vista Dele.
Respirou fundo, a ânsia por seguir o cavalo era grande, mas
a distância do salto também, abaixo um penhasco rochoso que levava ao fundo do
mar, se caísse ali, novamente seria cortado e o mar levaria seu sangue. Se
voltasse, nunca mais veria o cavalo e o seu destino final.
Pensou, pensou e pensou.
Deu às costas ao desfiladeiro, deu lugar à insegurança. Deu
às costas para ao destino, deu lugar ao medo.
Passou seus dias na campina, não era o que queria.
Desceu ao fundo do mar, não era o suficiente.
Um dia cansou-se, nadou até à superfície, subiu a campina,
caminhou até o pé da montanha, respirou fundo, mediu o caminho e correu, fechou
os olhos e lembrou-se das paisagens que viu ao correr atrás do cavalo, sentiu
novamente o ar à plenos pulmões, a emoção das batidas de seu coração agitado, a
adrelina percorrer junto de seu sangue pulsante!
Abriu os olhos: e viu-se flutuando no ar lentamente, o
desfiladeiro foi deixado para trás.
Fechou os olhos novamente, e esperou pousar ao chão.
Até hoje não sei se naquele momento ele conseguiu atravessar o desfiladeiro, ou se caiu no fundo do oceano e persistentemente tentou novamente, eu só sei que se fechar os olhos, posso vê-lo apaixonadamente voando acima do desfiladeiro.
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