Por Call me Eros.
Tamborilou os dedos no mousepad refletindo quais as próximas linhas a serem escritas do trabalho de conclusão de curso. O braço se apoiando na mesa e a mão esquerda segurando o rosto, os olhos passaram da tela do computador para a xícara de café frio e se detiveram na janela e no sol de fim de tarde que entrava pelas persianas.
De alguma forma estava faltando algo, um sentimento estranho de saudade misturado com uma breve ansiedade pelo encontro. Ainda que evitasse e completasse seus dias de atividades físicas e sociais, ainda sentia um pedaço de si deslocado e perdido no outro.
Seu amigo andava silencioso por aqueles dias e acabaram por ter pouco contato, o que alimentava a saudade. Se convenceu de que esse tipo de coisa acontece quando duas pessoas possuem vidas que são bem diferentes entre si, mas não mentia para si mesmo sobre o quanto não gostava dessa situação – queria ele perto, o mais perto possível. Dentro de um abraço, nos seus braços. Parou. Balançou a cabeça. Não. Levou as mãos na direção dos olhos e reclinou. Não, não, não. Esses pensamentos estranhos sobre toques e contato físico de novo não. Eram bons amigos e ele não era gay. Nenhum dos dois eram. Não fazia sentido esse desejo perverso que poderia acabar com a amizade deles. Não
A campainha tocou, tirando ele abruptamente dos devaneios que jurava serem sem sentido. Colocou uma bermuda e desceu as escadas em direção à porta e mais tarde constataria que não saberia dizer se existia mágica, mas as coincidências eram muito estranhas às vezes... como pensar em alguém e essa pessoa surgir na sua frente como se – hocus pocus – plim.
- Oi – Disse seu amigo com um sorriso estampado no rosto, segurando o skate debaixo do braço esquerdo.
- Entra – ele teria percebido sua cara de surpresa e a pontada de felicidade? Seu coração bateu mais rápido.
Passaram horas conversando sobre todas as coisas que tinham em comum, desabafos e risos. Prepararam um lanche quando estava anoitecendo e se sentaram para assistir um filme de ficção científica. Que nenhum dos dois gostava do tema, mas fazer algo junto era mais importante do que as preferências cinematográficas.
Estava entediado quando percebeu o outro dormindo ao seu lado. Decidiu por chamá-lo para deitar no colchão que colocava ao lado da sua cama, ou se ele preferisse poderia ir embora. Tocou seu ombro. Sentiu arrepio. Ficou por algum tempo com a mão parada ali.
Quando o amigo sonolento abriu os olhos, virou-se e abraçou, colocando a cabeça em seu peito. Estava dormindo? Talvez. E agora? Passou a mão em seu cabelo, lentamente, e fez um cafuné. O amigo tensionou os músculos fazendo o abraço se tornar mais forte e aparentemente percebeu que não poderia continuar fingindo estar dormindo e se preparou para desfazer aquele momento, ao que o outro o segurou ainda no abraço. Suspiros.
- Acho que estou carente.
- Tudo bem, pode ficar assim.
Se beijaram.
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