Bem Vindos!



Bem Aventurados os que entram no Bosque da Lua Carmim!

Se você chegou até aqui, bem vindo!

Se foi convidado, sinta-se à vontade para sentar à volta da fogueira e ouvir As Sete Cantadoras, suas histórias, delírios e mágoas, a assistir às declamações apaixonadas de Eros e o ardor de suas palavras!

Agora, se chegou com as próprias pernas ... bem ... não se engane, por trás da dança, da bebida e da fogueira também está o covil da loba: local onde ela guarda os ossos que desenterra no escuro e lambe as feridas da carne e alma.

De qualquer forma, você está aqui, se seguiu o brilho alaranjado da lua, ou se simplesmente está perdido no escuro, olhe onde pisa e divirta-se, as histórias estão ditas para aqueles que querem ouvir.

Novamente, bem vindos.

sábado, 21 de abril de 2018

Um sonho para antes de você chegar - Laço


Sabe quando você conhece uma pessoa nova, mas tem a sensação de que já conhece essa pessoa desde sempre? Às vezes nos encontramos com essa pessoa por muitos outros caminhos, seja numa outra vida ou em algum lugar de nossa mente.

Por todas as sete.


Em todas as vezes que o vi, era como um dia claro de inverno: com o azul brilhante e nuvens brancas decorando o céu, o sol amarelo ofuscando os olhos, radiando um calor gentil sobre as pessoas que andavam por entre a brisa fria.

Eu estava sentada esperando ele passar por mim, eu não sabia direito quem éramos, eu havia acabado de conhecer ele. Era uma pena que ele quisesse tanto morrer, não era bom da cabeça, sempre nos preocupando. Ficamos amigos rapidamente, andávamos por entre os jardins da escola, desvendando árvores, insetos, flores e frutos. Juntos víamos os porcos espinho de cobertura branca, parecendo de vidro caminhando pelo mato, era possível ver borboletas brilhantes e outras criaturas que nunca seriam descobertas. Um certo dia, num frágil momento ele sumiu, eu corria desesperadamente, buscava por ele num labirinto de folhagens, o labirinto era imenso; apesar de ser dia, as esquinas eram escuras e frias, quase desabei quando percebi que não poderia o encontrar, as lágrimas me vieram aos olhos. Ele me assustou propositalmente ao se revelar onde estava, o sorriso besta ao ver como minha expressão de susto se tornou raiva, ele riu, eu fiquei brava. Corremos por vários lugares e descansamos sob o sol, éramos felizes e muito jovens. Fechei os olhos respirei fundo.

Eu ria tomando minha taça de vinho provocativamente, quando abri os olhos podia fitá-lo observando atentamente as reações que ele tinha ao meus comentários e perguntas: "e o que você faz para ganhar dinheiro além de trabalhar?",  - Eu planto arroz - disse ele meio sem jeito. Eu riu novamente, com um sorriso malicioso no rosto eu pergunto: “você também vende palha de arroz?” ele ri e – “Não vendo não, tudo é muito informal”. Eu mexo no meu prato ajeitando a comida, uma brisa suave atrai minha atenção para a vista que havia da sacada: um campo de flores brancas e lilases selvagemente arranjadas, árvores soltas pelo espaço e coretos arranjados no imenso verde. Aquilo era bom, a conversa e a sinceridade, ele já era meu naquele ponto.

As ruas estavam cheia de gente, pessoas caminhando despreocupadamente. As passadiças era de pedras arranjadas tão uniformemente que não havia desnível, o cheiro era de água salobra e ar parado, as casas antigas e arruinadas mostravam o impacto da inundação que havia destriído a terra. Eu procurava por alguém, eu não sabia exatamente quem seria que eu encontraria naquela cidade, o homem era um pesquisador, ele entendi a submersa e seus segredos. Ele havia sido dado como sumido pelo governo, depois da crise que havia destruído parte da população afogada, o mundo não era um local seguro para quem defendia o mar. Em um piscar de olhos ele surge entre a multidão parado me encarando, a sensação de alivio toma conta do meu corpo, eu corro atrás dele, o seguro pelo braço e peço que ele me leve com ele, eu seria sua aprendiz e não deixaria que ele se perdesse mais, ele não estaria mais em risco com ele mesmo. Com firmeza nos olhos ele questionou: "Você tem certeza que é isso que você quer?", eu concordei, ele me arrastou pelo braço água à dentro, o mundo havia sido inundado, prédios e cidades inteiras submersas. De repente, agentes do governo nos seguem, os homens dotados de armas e equipamento de mergulho nos cercam por entre os corredores subaquáticos, a sensação é de medo e desespero, eles simplesmente não podem nos pegar! Eu me perco do pesquisador, os agentes me pegam, eles injetam em mim algo como um jato de gás garganta a dentro, e então, eu não preciso mais de equipamentos, eu percebo que posso respirar debaixo d'água. Quando isso acontece, eu agradeço os agentes, e o pesquisador aparece observando ao longe, também sem equipamento. Quando o questionei se ele sabia o porquê eles nos perseguiam, ele assentiu com a cabeça concordado que sim. Agora nosso lar seria ali, não éramos um casal, não éramos unidos romanticamente, mas não havia mais volta. Ele decidiu que me levaria à sua casa e me apresentaria os seus pais para mim: A primeira vez que estive ali a casinha era muito antiga e com um estilo rústico fascinante, remetia a algo medieval, pedra, e adobe, o chão era um misto de chão batido com azulejos de adobe pintados à mão, remetendo à algo português, ela ficava à borda da saída das águas. Havia uma capela ou um altar em quase todos os cômodos. Seus pais eram gentis, e me adulavam bastante. No dia seguinte, a casa era de madeira, mais moderna e vazia, apenas um de seus pais apareceu. No terceiro dia a casa era banca com tijolinhos à vista, eu me questionava qual a necessidade dele de mudar a casa tantas vezes, o local era sempre o mesmo, mas a casa era outra, como se colocada uma encima da outra. Nos sentamos ali e assistimos o tempo passar agora, tranquilos.

Nós éramos jovens encrenqueiros, queríamos derrubar o governo, destruir grandes instituições, trazer a justiça pelas mãos da revolução: eu treinava hamisters kamikaze, ele só queria ver o circo pegar fogo com sua influência. Após muito treinamento e tentativas falhas de dominar o mundo, dois pré adolescentes decidem comer, aparentemente minha mãe vendia comida em uma caminhonete que seria da minha avó, ela me questionava sobre minhas decisões, mas eu ria, me divertindo com a preocupação dela. Os ratos treinados iriam fazer seu papel naquela noite, quando fechava os olhos e eu pude vê-los enquanto comia, entrando por tubulações e explodindo locais e pessoas importantes, eu ria sem parar. O meu jovem parceiro aparece e me abraça. Somos Bony&Clayde, rebeldes fora da lei.

No fim, são apenas sonhos com alguém que nunca vi, mas que sempre conheci.

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